Aos 42 anos, Alessandra Santos vive em Portugal há pouco mais de três anos. Mãe, esposa, estudante e profissional freelancer na área de análise de dados, descobriu no boxe um espaço de crescimento pessoal e superação. Nesta entrevista integrada no projeto More Women in Boxing, conta-nos como o desporto entrou na sua vida, transformando rotinas e desafiando limites mentais e físicos.
More Women in Boxing: Podes apresentar-te brevemente – quem és tu e como é o teu dia a dia?
O meu nome é Alessandra. Tenho 42 anos e moro em Portugal há pouco mais de três anos. Sou casada e tenho um filho de 4 anos. Como não estou oficialmente a trabalhar, tenho estudado bastante para me tornar analista de dados e faço alguns trabalhos como freelancer, ainda na área de imigrações de sul-americanos para a Europa.
Imagem More Women in Boxing
More Women in Boxing: Lembras-te de como foi o teu primeiro contacto com o boxe?
Sou mesmo vizinha da Rounds Academy, então todos os dias, quando ia levar o meu filho à creche, passava pela porta e via um pouco dos treinos. Sempre gostei de praticar desporto e achei que seria muito interessante juntar-me ao pessoal! Para ajudar, o meu filho adorava ir à Rounds antes e depois da creche; eu diria que os instrutores foram os primeiros amigos do Gustavo em Portugal.
More Women in Boxing:O que te levou a dar mesmo o passo e experimentar o boxe?
Demorei imenso tempo para experimentar o boxe. Estou na Rounds há mais de dois anos, mas só nos últimos seis meses é que tive coragem de realmente experimentar — e só me arrependo de não ter feito isso antes!
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More Women in Boxing: Como te sentiste depois do primeiro treino – fisicamente, mas também por dentro?
Fisicamente, estava preparada, porque já treinava nas aulas de HIIT e SHIIT há pelo menos um ano e meio. Por dentro… só queria que aquilo acabasse! Estava super preocupada por, na minha cabeça, estar a atrapalhar o treino dos outros.
More Women in Boxing: Quais foram os maiores desafios no início – talvez também fora do treino?
Sem dúvida, o maior desafio foi convencer-me de que todos estão ali para aprender. Mesmo os colegas mais experientes têm sempre algo a praticar, e portanto, eu não estava a “atrapalhar”, mas sim a “ajudar” o colega a exercitar algo — mesmo que fosse a paciência!
Percebi que esse sentimento, uma mistura de vergonha com falta de jeito, também me atrapalhava fora do treino.
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More Women in Boxing: Houve momentos em que pensaste: “Isto não é para mim”?
Até hoje, para ser sincera, penso nisso às vezes... mas logo olho para o meu progresso e rejeito completamente esse pensamento.
More Women in Boxing: O que te fez continuar?
Ao perceber como o boxe é artístico e terapêutico, decidi continuar e dar o meu melhor em cada treino. O bem que os treinos me fazem, física e psicologicamente, compensa qualquer esforço. Ir para a Rounds, para mim, é inegociável.
More Women in Boxing: O que mudou no teu dia a dia desde que começaste a treinar boxe?
No início, mudou a minha perceção do que eu podia ou não fazer. Ao melhorar a qualidade dos treinos, percebi que com disciplina e determinação, tudo é possível. O boxe ensinou-me também a focar no que posso controlar e a responder da melhor forma ao que não posso — uma verdadeira lição de vida.
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More Women in Boxing: E dentro de ti – mudou a forma como te vês ou como te sentes no teu corpo?
Sinto que posso. Essa frase resume tudo. Posso ter mais controlo sobre o meu corpo e, sobretudo, sobre o que sinto.
More Women in Boxing: Como reage a tua família ao teu treino de boxe?
O meu marido acha o máximo! O meu filho gosta de ver partes do meu treino, e antes de dormir, diz que só me deixa sair para ir ao “tá tá” — como ele chama a Rounds.
More Women in Boxing: Consegues ver o treino como um momento só para ti?
Sim, é sempre um momento só meu. Dependendo do treino, nem dá para pensar em mais nada!
More Women in Boxing:O que significa o boxe para ti hoje, a nível pessoal?
É uma conexão entre corpo e cérebro. Fortalece-me fisicamente e tira-me da zona de conforto intelectual. É arte — parece uma dança. É auto-defesa — ensina-nos a agir e reagir.
More Women in Boxing: Que mensagem gostarias de deixar a outras mulheres que têm curiosidade, mas ainda não deram o passo?
Sejam fiéis a vocês mesmas. Comemorem o vosso progresso e persistam!
A história de Alessandra integra o projeto More Women in Boxing, que visa dar visibilidade a mulheres de diferentes idades, histórias e percursos que encontraram no boxe muito mais do que um desporto — uma ferramenta de empoderamento. Alessandra é prova disso: uma mulher que ousou começar, persistir, e hoje diz com orgulho e verdade — “Sinto que posso.”