No tatame, no ringue ou no cage, cada movimento conta. Mas antes mesmo de o combate começar, há uma preparação invisível – feita na mesa, na garrafa de água e até no frasco de suplementos. A nutrição e a suplementação deixaram de ser apenas suporte e tornaram-se parte da estratégia de performance. A ciência confirma: o que se come (e como se come) pode ser tão decisivo quanto a técnica aplicada.
A rotina dos atletas de combate é uma das mais exigentes do desporto. Oscilação de peso, treinos intensos, recuperação rápida entre sessões e, claro, a demanda por explosão, força e resistência. Por isso, a nutrição precisa ser funcional, personalizada e periodizada – ou seja, ajustada ao calendário competitivo, objetivos físicos e biotipo de cada atleta.
Durante períodos de perda de peso, é comum uma redução no consumo calórico. No entanto, estudos indicam que a manutenção da ingestão de proteínas e carboidratos complexos é essencial para preservar massa magra e garantir energia para os treinos. A estratégia recomendada é fracionar refeições, incluir fontes de proteína magra (como ovos, carnes brancas, whey protein) e ajustar os carboidratos de acordo com a fase de treino.
Além disso, a ingestão de micronutrientes e antioxidantes (presentes em frutas, vegetais e oleaginosas) ajuda a combater o stress oxidativo causado por treinos de alta intensidade – prevenindo lesões, melhorando a imunidade e acelerando a recuperação.
A perda de 2% do peso corporal em líquidos já é suficiente para afetar negativamente a concentração, a coordenação e a força muscular. Para atletas que fazem cutting (redução de peso rápida), a hidratação torna-se ainda mais crítica. A orientação científica é clara: hidratar-se antes, durante e após os treinos, com reposição de eletrólitos quando necessário, especialmente em períodos de restrição.
A suplementação não é mágica, mas, quando bem utilizada, é uma poderosa aliada do rendimento. Segundo os especialistas do Hospital Albert Einstein de São Paulo, Brasil, estes são os principais suplementos recomendados para atletas de desportos de combate:
Whey Protein: rápida absorção e alto valor biológico. Ideal para o pós-treino, estimula a síntese proteica e contribui para a recuperação muscular.
Creatina: um dos suplementos mais estudados no mundo. Aumenta força, potência e volume muscular. Também ajuda na recuperação e tem efeito neuroprotetor.
BCAA (aminoácidos de cadeia ramificada): úteis durante dietas de restrição calórica. Reduzem a fadiga central e ajudam a preservar massa magra em cortes de peso.
Beta-Alanina: aumenta a concentração de carnosina nos músculos, retardando a fadiga e permitindo maior volume de treino.
Cafeína: melhora o foco, a disposição e a percepção de esforço. É útil em sessões intensas ou antes da competição.
Multivitamínicos e Ômega-3: mantêm o sistema imunitário forte e ajudam na recuperação geral do organismo.
Importante: a utilização de qualquer suplemento deve ser individualizada e supervisionada por um nutricionista desportivo. O que funciona para um atleta pode ser ineficaz – ou até prejudicial – para outro.
A cultura do “peso na balança” ainda domina os bastidores dos combates. Cortes agressivos, com desidratação extrema e jejum prolongado, são práticas comuns — e perigosas. Hoje, a ciência do desporto defende abordagens mais seguras, como:
Planeamento nutricional antecipado com perda gradual de peso (0,5 a 1 kg por semana);
Uso estratégico de alimentos com baixo teor de resíduos para esvaziamento gastrointestinal antes da pesagem;
Reidratação controlada com bebidas isotônicas após a pesagem, respeitando a janela metabólica.
Essa abordagem não só reduz riscos à saúde, como garante mais energia, cognição e performance real na hora da luta.
A vitória começa muito antes do gongo soar. Ela está nas escolhas diárias: no prato, no copo, na disciplina nutricional que molda o corpo e a mente do lutador. A ciência está à disposição dos atletas que querem ir mais longe — e por mais tempo.
Nutrir-se bem não é só uma questão de saúde. É uma estratégia de combate.