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“Ser mulher no boxe é sinónimo de poder, de autoestima e afirmação”

Entrevista com Daniela Ribeiro, atleta e treinadora de boxe que reforça a importância de construir o futuro do boxe feminino

Redação
Por: Redação Fonte: Redação Fight News
21/04/2025 às 09h57 Atualizada em 21/04/2025 às 12h19
“Ser mulher no boxe é sinónimo de poder, de autoestima e afirmação”
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Num desporto ainda marcado por uma forte presença masculina, Daniela Ribeiro tem vindo a afirmar-se tanto dentro como fora do ringue. Atleta federada de alto rendimento e treinadora dedicada, Daniela é um exemplo de perseverança, paixão e superação. Em entrevista à Fight News Portugal, partilha a sua experiência como mulher no mundo do boxe e deixa mensagens inspiradoras para a nova geração de atletas femininas.

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FightNews: Quais foram os principais desafios que enfrentaste enquanto mulher a entrar no mundo do boxe?

Daniela Ribeiro: Enquanto mulher no mundo do boxe, senti mais dificuldades em sentir que os outros confiam em mim e no meu potencial só por ser mulher. Mas a verdadeira diferença na minha carreira foi a falta de adversárias femininas da minha categoria — e, ainda assim, acho que tive alguma sorte. Há atletas que ficam meses sem competir por falta de adversárias.

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FightNews: O que significa para ti ser mulher no mundo do boxe?

Daniela Ribeiro: Para mim, ser mulher no boxe é sinónimo de poder, de confiança, de autoestima e de afirmação. Ser mulher no mundo do boxe é sentir-me capaz. É sentir que este também é o meu mundo.

FightNews: Como é gerir a tua realidade de vida dupla, sendo atleta e treinadora ao mesmo tempo?

Daniela Ribeiro: É extremamente desafiante. Amo ensinar, amo aquilo que é a minha profissão, e poder trabalhar com a minha verdadeira paixão — o boxe — é um privilégio. Transmitir às pessoas o quanto gosto disto e a diferença que pode fazer nas suas vidas, como faz na minha, é o que me move.
Mas ser atleta nesta área é ter horários repartidos, tentar conjugar tudo ao máximo para pagar contas, conseguir descansar e manter-me na melhor performance possível. Felizmente sou apaixonada pelo meu trabalho, mas é, sem dúvida, um grande desafio.

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FightNews: Acreditas que o boxe pode ser uma ferramenta de empoderamento feminino? Como?

Daniela Ribeiro: Sim. Sobretudo pelo olhar masculino. Muitas vezes sinto que pensam: “uma miudinha a ensinar-me?”. Talvez por ser nova, talvez por ser mulher. Mas depois veem daquilo que sou feita, as capacidades que tenho para ensinar, e o quão divertido e agradável é fazer boxe — mesmo sendo ensinado por uma mulher.

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FightNews: Que aprendizagens levas do teu percurso enquanto treinadora?

Daniela Ribeiro: Ser paciente. “Olhar de fora.” Ver o jogo de outra forma. Perceber como se encaixam os estilos de combate uns nos outros, e outros que, por mais bravura que se tenha, dificilmente encaixam.
Às vezes esquecemo-nos de que já tivemos o nosso primeiro dia, que aprendemos a andar muito antes de aprendermos a golpear. Queremos resultados rápidos, melhor performance, mais conquistas… mas o caminho faz-se caminhando.
Vejo isso nos meus alunos — alguns com mais dificuldades, outros com mais facilidade — mas todos, ao seu ritmo, aprendem, ganham confiança e percebem o jogo. Vê-los crescer dá-me ânimo e lembra-me que, mesmo que pareça estar longe, estou a melhorar a cada dia.

FightNews: Qual achas que é o maior obstáculo que ainda precisa ser ultrapassado?

Daniela Ribeiro: Gostava muito que existisse uma seleção feminina. Que o poder e a confiança fossem igualmente distribuídos entre atletas masculinos e femininos. Gostava que mais mulheres se formassem e se afirmassem como treinadoras de boxe, que criassem equipas de competição também, e que pudéssemos todos partilhar os mesmos espaços — com entreajuda, em prol de um só crescimento: fazer crescer o boxe em Portugal, colocando o nosso país no mapa.

FightNews: Achas que o boxe devia ser mais promovido entre as mulheres? Porquê?

Daniela Ribeiro: Sim, sem dúvida. Muitas mulheres já praticam, mas às vezes ainda não sentem a confiança para dizer a outras mulheres: “Eu faço boxe, devias experimentar também, vais adorar.”
As mães e os pais deviam incutir esta modalidade de tanto valor e respeito nas crianças. Seriam mais confiantes, seguras de si mesmas, com melhor destreza e capacidade de concentração. O boxe oferece uma panóplia de benefícios que acompanham a criança pela vida adulta.

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FightNews: Que impacto tem o boxe na autoestima das mulheres que treinas?

Daniela Ribeiro: Sem dúvida alguma que sim. Ser mulher neste mundo e poder ajudar outras mulheres como eu a sentirem-se mais seguras, confiantes e com melhor autoestima… é incrível.
Capazes de atingir objetivos, de sonhar alto e de realizar, sem depender de ninguém e sem acharem que há lugares onde não conseguem chegar. Rodeio-me de muitas mulheres — alunas, mães, irmãs, sobrinhas, mais novas e mais velhas — e todas vêm ganhando confiança através do boxe. Isso é transformador.

FightNews: Que mensagem deixarias às próximas gerações de mulheres que se queiram juntar ao boxe?

Daniela Ribeiro: Treinem muito, muito. Ouçam todos os que vos querem ajudar. Sejam seletivas com a informação. Escolham um bom treinador, uma boa equipa. E acreditem em vocês, até ao fim — mesmo quando ninguém acreditar.
É fora da nossa zona de conforto que temos sonhos… e é lá que os realizamos.

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FightNews: Queres deixar alguma mensagem final às mulheres que ainda estão na dúvida sobre experimentar o boxe?

Daniela Ribeiro: Meninas e mulheres, de todas as idades: pratiquem boxe. Treinem com afinco. Com o objetivo de se melhorarem a vocês mesmas — pela técnica, pela velocidade, pela força ou resistência. Pela capacidade de se sentirem mais capazes.
Treinem para se divertirem. Acreditem umas nas outras. Puxem umas pelas outras. Não imaginam a força que uma mulher que faz boxe pode ter.

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Miriam Há 2 meses LisboaCom ela o boxe feminino pode crescer!
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