Miri Rautenberg é a voz por trás do projeto More Women in Boxing, uma iniciativa pioneira que pretende transformar o panorama do boxe feminino em Portugal. Mais do que atleta ou treinadora, Miri assume agora um papel de liderança e mobilização, desafiando estruturas e promovendo a igualdade de género no desporto. Nesta entrevista, partilha a sua visão sobre o futuro do boxe, os obstáculos ainda por ultrapassar e o poder do desporto como ferramenta de empoderamento feminino.
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FightNews: Quais foram os principais desafios que enfrentaste enquanto mulher ao entrares no mundo do boxe?
Miri Rautenberg: Para mim, o maior desafio foi, muitas vezes, sentir-me sozinha. O boxe é um desporto individual dentro do ringue, mas, no treino, exige espírito de equipa e apoio. E esse apoio existe entre os rapazes, mas, sendo mulher, ficas frequentemente de fora. Isso torna o início mais difícil e, por vezes, até solitário.
FightNews: O que gostarias de ver mudar no panorama do boxe feminino em Portugal?
Miri Rautenberg: Gostava que o boxe feminino fosse promovido até alcançarmos uma verdadeira igualdade – 50 % mulheres, 50 % homens. Em todas as áreas: no treino, na competição, nas estruturas. E que, um dia, já não fosse necessária nenhuma iniciativa especial, porque a igualdade seria algo natural.
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FightNews: Achas que o boxe devia ser mais promovido entre as mulheres? Porquê?
Miri Rautenberg: Sim, sem dúvida. Precisamos de mais mulheres no boxe – não só como atletas, mas também como treinadoras, árbitras e dirigentes. Quando estivermos representadas de forma igual em todas essas áreas, o desporto muda. Torna-se mais aberto, mais inclusivo.
FightNews: Acreditas que o boxe pode ser uma ferramenta de empoderamento feminino? Como?
Miri Rautenberg: Sim, absolutamente. O boxe deu-me autoconfiança – não só através das vitórias, mas também no dia a dia. Aprendi a definir objetivos e a traçar o caminho até lá, mesmo com obstáculos. Isso ajudou-me nos estudos, na vida profissional e pessoal. E aprendi que o caminho é tão importante como o resultado.
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FightNews: O que significa para ti ser mulher no mundo do boxe?
Miri Rautenberg: Para mim, é um privilégio – e também uma responsabilidade. Quero motivar outras mulheres e raparigas a dar o primeiro passo. A experimentar o boxe. A descobrir a força que têm. A ganhar coragem. E a encontrarem-se a si próprias de uma nova forma.
FightNews: Qual achas que é o maior obstáculo que ainda precisa de ser ultrapassado?
Miri Rautenberg: É preciso começar pela base. As meninas e mulheres têm de ter contacto com o boxe – sem preconceitos, sem receios. E perceber que não precisam de competir para fazer parte. Podem treinar por gosto ou ser treinadoras, árbitras. O acesso tem de ser mais aberto e diversificado.
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FightNews: Como surgiu a ideia do projeto More Women in Boxing? O que vos motivou a criar esta iniciativa?
Miri Rautenberg: Sempre tive vontade de mudar alguma coisa. Mas a ideia concreta surgiu com o programa Novas Lideranças, do Comité Olímpico de Portugal, CIG e IPDJ. Aí carregou-se no botão de arranque. Comecei com a minha própria organização, a Rounds Academy – um projeto de coração. Mas percebi que temos de pensar em grande. Só em conjunto, com outros treinadores, árbitros e clubes, podemos realmente mudar as coisas.
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FightNews: Por fim, qual foi o ponto de partida para a criação do More Women in Boxing e que objetivos pretendem alcançar com este projeto?
Miri Rautenberg: O nosso objetivo é um desporto verdadeiramente igualitário. Queremos que raparigas e mulheres tenham a oportunidade de conhecer o boxe – no treino, na competição, na estrutura. 50 % de mulheres em todas as áreas. E, quando isso acontecer, talvez o More Women in Boxing já nem seja necessário. E isso seria o maior sucesso.