"O meu lema de vida sempre foi fazer o que ainda não foi feito"

Aos 68 anos, Paulo Gomes é o atleta mais velho a competir no Kempo desportivo em Portugal, um exemplo de energia, motivação e perseverança. Escritor, desportista e autodidata, partilha com a Fight News Portugal o seu percurso singular, a sua ligação à comunidade da UDCAS e a visão inspiradora que tem do desporto para todas as idades.

Imagem cedida Nuno Grilo

FightNews: Como é que se sente ao saber que é atualmente o atleta mais velho a praticar e competir no Kempo desportivo em Portugal? Esse feito traz-lhe algum orgulho ou responsabilidade especial?

Paulo Gomes: Sinto muito orgulho e, por ser o atleta mais velho, tenho uma responsabilidade acrescida: nos treinos e em competição tenho de mostrar que ainda sou capaz. Isso reforça muito a minha vontade. O meu lema de vida sempre foi “fazer o que ainda não foi feito.

FightNews: Ao longo do tempo, o corpo e a mente vão mudando. Como tem gerido o seu bem-estar físico e mental para continuar a competir ao mais alto nível mesmo aos 68 anos?

Paulo Gomes: Sim, o corpo e a mente vão alterando com a idade. O segredo é manter a mente jovem e cuidar do nosso corpo — porque só temos este. Sinto tanta energia, ou mais, do que quando tinha 40 anos. Acordo todos os dias às 6 da manhã com muita vitalidade.

Imagem cedida Nuno Grilo

FightNews: A sua experiência de vida influencia a forma como treina e compete? O que aprendeu com as artes marciais até agora?

Paulo Gomes: A minha experiência de vida tem imensa influência. Só tive 22 profissões e nunca me repeti em nenhuma. Em todas, sempre lutei para ser o melhor. Nas artes marciais aprendi que a experiência profissional perfila com a vontade de vencer e com a resiliência.

Imagem cedida Nuno Grilo

FightNews: O que é que mais o surpreendeu no universo do Kempo e na comunidade da UDCAS?

Paulo Gomes: O que mais me surpreendeu no universo do Kempo foi a sua ambiguidade: parece um desporto violento, mas é exactamente o oposto. É um desporto que fomenta a amizade e a camaradagem. Vivo a 100 metros da UDCAS e não tinha nenhuma ligação antes. Quando entrei nesta fantástica comunidade, fiquei maravilhado pelos valores de grande profissionalismo praticados numa instituição local, mas grandiosa, com atletas de enorme valor e treinadores que nem nos grandes clubes se encontram.

Imagem cedida Nuno Grilo

FightNews: Sendo também escritor, há pontos de contacto entre as artes marciais e a criatividade da escrita?

Paulo Gomes: É uma pergunta complicada. A área convergente é a concentração e a imaginação; a divergente é que seria muito difícil escrever com luvas de combate. No entanto, também na escrita tento fazer o que ainda não foi feito — e em 2014 fui o único autor com outdoors com 19 metros por 7 metros.

FightNews: Como vê o papel do desporto, especialmente das artes marciais, na vida de pessoas mais velhas? Que mensagem deixaria a quem acha que já não tem idade para começar?

Paulo Gomes: Penso que deveria haver mais jovens como eu a praticar. Existe sempre o medo de que já não somos capazes, mas isso não é verdade. Somos capazes de fazer tudo — basta acreditarmos em nós.

Imagem cedida Nuno Grilo

FightNews: Por fim, que expectativas tem para o próximo campeonato e que mensagem gostaria de deixar à sua equipa, treinadores e colegas de treino?

Paulo Gomes: A minha expectativa para o próximo campeonato é ganhar. Se não tivesse essa ambição, estaria derrotado antes de competir. A mensagem que deixo à minha equipa é que sejam eles próprios, acreditando nas suas capacidades. A análise de alguém que já viveu muitos anos é esta: todos eles são CAMPEÕES. Quanto aos treinadores, só posso dizer que tenho imenso orgulho e sorte por ter encontrado treinadores de tão alto gabarito.

Imagem cedida Nuno Grilo

Uma última mensagem...

“A vida é repleta de confusões
Mas também de sonhos e ilusões
Mesmo que o dia seja para esquecer
Nunca desistas, só assim podes vencer.”