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YASUKE, O SAMURAI AFRICANO

De Moçambique ao Japão: o improvável caminho de um guerreiro

Redação
Por: Redação Fonte: Marcia Lomardo
17/04/2025 às 14h06
YASUKE, O SAMURAI AFRICANO
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Yasuke era um africano natural de Moçambique, servo do jesuíta italiano Alessandro Valignano. Em 1579, o jesuíta foi supervisionar as missões religiosas no Extremo Oriente e, assim, Yasuke chegou ao Japão, fazendo parte da comitiva.
A chegada a Quioto causou grande alvoroço, devido ao seu porte físico (1,90 m de altura) e à cor da sua pele. Até então, nenhum negro tinha sido visto naquela região do país. No meio do tumulto, algumas pessoas morreram pisoteadas na tentativa de o ver.

Naquele momento, o brutal Oda Nobunaga era o senhor feudal (daimyo) mais poderoso no Japão. Estava perto da igreja dos jesuítas onde decorria a confusão e, ao ver Yasuke, pensou que ele tivesse sido pintado pelos jesuítas. Profundamente impressionado, solicitou que o entregassem para o seu serviço. Estes acontecimentos foram registados em 1581 numa carta do jesuíta Luís Fróis para Lourenço Mexia no “Relatório Anual da Missão Jesuíta no Japão”.

Então Yasuke foi com Oda Nobunaga para o seu castelo em Azuchi. Os registos deste período contam que Oda gostava de conversar com Yasuke, que, a essa altura, falava japonês devido à preparação que recebera para ir ao Japão. Nos arquivos do clã Maeda, está registado que Yasuke assimilou a cultura do Japão e, ao mesmo tempo, adorava dançar e tocar Utenzi – um estilo de poesia africana que narra feitos heróicos.

Oda Nobunaga e Yasuke tornaram-se muito próximos e Yasuke participou em várias batalhas importantes ao lado de Nobunaga. Como, por exemplo, a Batalha de Tenmokuzan, em Março de 1582, cujo resultado foi o primeiro passo para a unificação dos clãs do Japão.

Foi nessa altura que Yasuke se tornou Samurai. O primeiro samurai estrangeiro, pois até então o título era atribuído apenas por hereditariedade ou laços sanguíneos.

De acordo com registos nas “Crónicas do Lorde Nobunaga”, escritas pelo guerreiro Ota Gyuichi, Yasuke recebeu uma residência própria e foi-lhe concedido o cerimonial da katana (a tradicional espada dos samurais). Oda Nobunaga atribuiu-lhe também o direito de portar armas e usar a armadura dos guerreiros. Foi ainda autorizado a frequentar os jantares do palácio ao lado do poderoso senhor feudal – mais uma enorme distinção entre os samurais.

Além disso, a mais alta honraria possível para um samurai foi concedida a Yasuke: foi o escolhido para carregar a espada de Nobunaga, sendo o guardião da espada do seu senhor. Não há registos históricos de outros samurais que tenham recebido tamanha honraria de um senhor feudal tão importante como Oda Nobunaga.

Mas, mesmo com a rápida ascensão na hierarquia do exército de Oda, o tempo de Yasuke como samurai não foi longo. Em Junho de 1582, Oda Nobunaga foi traído e atacado por um dos seus generais, Akechi Mitsuhide, num templo em Honno-ji. Capturado, Nobunaga cometeu o suicídio honroso dos samurais, o seppuku. De acordo com o historiador Thomas Lockley, antes de se matar, pediu a Yasuke para o decapitar e levar a sua cabeça e a sua espada ao filho – atitude que, segundo o historiador, demonstra uma grande confiança no seu samurai estrangeiro.

Yasuke retirou-se para o Castelo Azuchi, acompanhando o filho do seu senhor com uma pequena tropa de 300 homens, mas o castelo foi cercado pelas forças mais numerosas de Mitsuhide. Yasuke lutou ferozmente na defesa do castelo contra os inimigos, mas a maior parte da tropa leal a Nobunaga foi dizimada.

Yasuke sobreviveu à batalha, mas, em vez de cometer suicídio, como era habitual na tradição samurai em caso de derrota, entregou a sua espada a Akechi, que o fez regressar à igreja dos jesuítas em Quioto.

A partir desse momento, perde-se o registo da sua trajectória e não há mais relatos sobre Yasuke, o samurai africano que até hoje impressiona quem conhece a sua história.

A imagem que acompanha este texto é a estátua de Yasuke em tamanho real, que se encontra no Museu Samurai de Fukushima.

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