Belle Martell foi a primeira mulher a exercer oficialmente a função de árbitra de boxe no mundo, tendo recebido a sua licença em 30 de abril de 1940, na Califórnia. Reconhecida não apenas pelo seu papel na arbitragem, Belle era uma lutadora experiente — praticante e professora de Savate (boxe francês) antes de se dedicar ao pugilismo. Mais tarde, tornou-se treinadora de boxe.
Juntamente com o marido, Art Martell — antigo campeão australiano de pesos leves —, fundou uma escola de boxe na garagem da sua casa. O casal também acumulava experiência no mundo do entretenimento, como produtores de espetáculos musicais.
Na década de 1930, Belle e Art começaram a organizar eventos de boxe amador na Califórnia. O sucesso foi tanto que acabaram contratados para realizar torneios no lendário Grand Olympic Auditorium, a meca do boxe em Los Angeles. Os dirigentes do clube tinham a expectativa de que Belle pudesse atrair o público feminino, e não se enganaram: com a sua presença imponente no ringue, voz marcante e o vestido de veludo preto que se tornaria a sua imagem de marca, Belle não só trouxe donas de casa para as bancadas como também estrelas de cinema de Hollywood — que pagavam quantias elevadas para assistir da primeira fila. Os eventos transformaram-se em autênticos fenómenos sociais, repletos de famílias e celebridades.
Além da arbitragem, Belle Martell desempenhava também os papéis de cronometrista, locutora, treinadora e grande incentivadora dos jovens atletas dos eventos que organizava. Paralelamente, promovia exibições de boxe em prisões, numa perspetiva pedagógica e de reabilitação social.
Apesar do reconhecimento, o machismo institucional não tardou a manifestar-se: a 24 de maio de 1940, apenas semanas após obter a sua licença, a Comissão Atlética do Estado da Califórnia aprovou, sem explicação, uma nova regra (#256) que estipulava: “Nenhuma licença será concedida a membros do sexo feminino para arbitrar, auxiliar ou gerir o ringue quando outros agentes forem do sexo oposto”. A medida foi aprovada por unanimidade.
Mesmo com esta deceção, Belle e Art Martell continuaram a promover o boxe amador com entusiasmo. Durante a Segunda Guerra Mundial, Belle juntou-se ao Women’s Ambulance and Defense Corps of America e passou a ensinar técnicas de autodefesa a mulheres.
Belle Martell faleceu em 1972, mas o seu legado permanece vivo. Em 19 de agosto de 2006, foi homenageada postumamente pelo Hall da Fama do Boxe Internacional da Califórnia. Na cerimónia, o então presidente do comité de selecção, Don Fraser — ex-promotor de boxe —, admitiu:
“Não sei como foi possível, mas negligenciámos esta mulher durante todos estes anos…”
Mais recentemente, em março de 2018, Belle Martell foi incluída no Hall da Fama do Boxe Feminino Internacional (IWBHF). Até aos dias de hoje, é considerada um ícone entre os estudiosos da História da Nobre Arte, símbolo da luta feminina pelo seu espaço no desporto.