A atleta portuguesa Maria Manuel Lopes voltou a subir ao lugar mais alto do pódio no Campeonato do Mundo de Kempo, desta vez com um sabor especial: a competição realizou-se em Portugal. Campeã nas vertentes de Full Kempo e Knockdown, Maria partilhou connosco os bastidores desta conquista, a preparação intensa que a antecedeu e a emoção de viver esta vitória rodeada pelo apoio do seu público, treinadores e colegas.
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FightNews: Como descreves a sensação de voltares a sagrar-te Campeã do Mundo, desta vez em casa, perante o público português?
Maria Manuel Lopes: É sempre uma sensação ainda melhor que o habitual. Jogar e ganhar em casa tem um sabor diferente, além de a pressão também ser maior porque queremos ainda mais que o título fique cá.
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FightNews: Revalidar o título é sempre um grande feito. Sentiste mais pressão ou mais motivação por competir em solo nacional?
Maria Manuel Lopes: A motivação foi maior, até porque é maior a cada ano que passa, mas também por conseguirmos sentir mais apoio do que se fosse no estrangeiro, ao podermos ter mais público a torcer por nós. Isso também faz com que a pressão aumente porque são mais olhos postos em nós e por sermos conscientes do peso que é representar o nosso país — ainda mais quando o fazemos em casa.
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FightNews: Foste Campeã do Mundo em Full Kempo e Knockdown. Como foi a preparação específica para estas duas vertentes tão exigentes?
Maria Manuel Lopes: É verdade que são duas provas bastante exigentes. A preparação envolve bastantes aspetos — temos de fazer um treino bastante completo porque precisamos de ter a componente física ao mais alto nível. Para ambas as provas temos de trabalhar bem a técnica, tanto no combate em pé como no chão, para estarmos preparados para tudo.
O striking é muito importante, mas o trabalho de grappling, projeções e chão pode fazer uma grande diferença. Também são combates bastante exigentes a nível físico; como não há controlo de potência, temos de estar preparados para aguentar a pancada e conseguirmos responder com o mesmo nível de intensidade.
Além disso, temos de ter a componente cardiovascular muito bem trabalhada para aguentar os rounds até ao fim e uns combates a seguir aos outros. Acho que o treino tem de ser muito bem dividido ao longo do tempo e é um trabalho contínuo.
E há ainda a parte psicológica, que também tem de ser bem trabalhada para conseguirmos gerir os combates e impor o nosso jogo.
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FightNews: Que significado tem para ti representar Portugal a este nível e trazer o ouro para casa?
Maria Manuel Lopes: Pratico artes marciais desde os 3 anos e sempre foi uma paixão muito grande, uma parte muito importante da minha rotina e da minha vida.
Acho que qualquer atleta sonha com poder representar o país ao mais alto nível — pelo menos desde sempre que me lembro de sonhar com isso, com conseguir subir com a minha bandeira ao lugar mais alto do pódio.
É mesmo indescritível a sensação de estar lá dentro a competir, de ganhar e de sentir o apoio dos meus treinadores e colegas.
A cada ano que passa sinto uma emoção ainda maior, principalmente por saber que os desafios aumentam e o nível da competição também. Então sei que tenho de trabalhar ainda mais se quiser manter o título.
Todo o esforço torna ainda melhor o sentimento ao ganhar — quanto mais difícil for, melhor sabe a vitória. Ver a minha evolução também é muito gratificante.
Tenho, por exemplo, alguns vídeos em que se nota que estou a sorrir durante os combates e isso descreve bem o quanto gosto de o fazer e o quanto me sinto bem a competir.
Tenho um orgulho que não cabe no peito por ter esta oportunidade de representar o meu país.
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FightNews:O que achas que mais evoluíste desde o teu último título mundial até agora?
Maria Manuel Lopes: É certo que evoluí muito tecnicamente e fisicamente — é um trabalho contínuo e eu procuro sempre aprender algo novo que me possa ajudar.
Mas acho que uma das partes mais importantes nos desportos de combate é a parte mental, e sinto que isso evoluiu bastante do último ano até agora.
Cada combate é diferente, cada adversária é diferente, e temos de nos adaptar no momento. Ser capaz de ouvir os treinadores e mudar a estratégia de um momento para o outro é algo que consigo fazer muito melhor agora.
Também é importante a gestão das emoções — estão sempre à flor da pele numa competição deste nível.
Temos de nos desligar de tudo o resto e focar apenas na adversária e no jogo que temos de fazer no momento.
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FightNews: Quais são os teus próximos objetivos?
Maria Manuel Lopes: Agora tenciono continuar o trabalho da melhor forma possível. Quero continuar a treinar para evoluir, porque sei que no próximo Campeonato do Mundo as minhas adversárias também vão estar mais fortes.
O meu grande objetivo é conquistar de novo o título no próximo ano.
Até lá, quero focar-me nas restantes competições nacionais e internacionais — sempre com o objetivo de conquistar todos os títulos possíveis e de fazer as melhores exibições em cada combate.
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FightNews: Por fim, tens alguma mensagem especial para os teus apoiantes, treinadores e todos os que te acompanham nesta caminhada?
Maria Manuel Lopes: Quero agradecer a toda a gente que me acompanhou ao longo dos anos e especialmente na preparação para esta competição — família, amigos, treinadores, colegas de equipa, e também a todos que mesmo sem me conhecerem acompanham o meu trabalho e acreditam em mim.
Por vezes recebo mensagens de pessoas a dizer que as inspiro e que sou um exemplo. Ouvir isso é bastante gratificante, porque também é um dos meus grandes objetivos.
A toda a gente que me vê como exemplo e que sonha com chegar tão ou mais longe do que eu, tenho a dizer: nunca desistam e trabalhem sempre com foco no que querem e gostam.
Agradeço também ao fisioterapeuta que nos acompanhou durante a competição e nos ajudou em tudo o que fomos precisando.
Quero deixar um agradecimento muito especial aos meus treinadores e colegas de seleção pelo que vivemos nestes dias. No fim da competição estávamos quase todos sem voz por termos gritado uns pelos outros, e tenho a certeza de que nenhum de nós se vai esquecer da união que sentimos.
Já estive em várias competições com a seleção nacional e nunca tinha sentido um apoio tão grande, nem visto um grupo tão unido — isso torna tudo muito mais único e especial.
Não estamos sozinhos nesta caminhada. Estar a lutar e ouvir os meus colegas a gritar por mim dá-me uma força e motivação ainda maiores.
A festa que fizemos em casa, quer ganhássemos quer perdêssemos, vai ficar na memória de todos que a sentiram, tal como eu — e isso representa bem a emoção que todos sentimos por termos a honra de representar Portugal ao mais alto nível.